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quarta-feira, 6 de abril de 2011

A Grota da Taipa de Zé Félix


A fuga da família Barra do bando de Lampião
 e o seu estranho esconderijo
Por Rostand Medeiros 

            Para os que desenvolvem pesquisas espeleológicas na zona rural dos municípios potiguares de Felipe Guerra e Governador Dix-Sept Rosado, é muito normal ouvir histórias sobre a passagem do bando de Lampião pela região. São narrativas contadas à noite, nos alpendres das casas sertanejas, pelos filhos e netos de falecidas testemunhas daqueles dias complicados. Atualmente, é cada vez mais raro ouvir esses fatos diretamente das testemunhas oculares, pessoas que estiveram diante dos cangaceiros ou tiveram suas vidas alteradas pela passagem daquele bando sinistro e que jamais foi esquecido. Recentemente, porém, os membros dos grupos espeleológicos os quais trabalham na área tiveram a rara oportunidade de ouvir a história de uma senhora, que contou como ela e sua família, para fugirem do flagelo do cangaço, utilizaram como esconderijo uma pequena cavidade da região.
 
Na horda sinistra

              No dia 12 de junho de 1927, um domingo, fazia dois dias que o bando do cangaceiro pernambucano Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião, estava em território potiguar. Seu objetivo era assaltar a próspera cidade de Mossoró, fato que culminou numa das mais interessantes páginas da história docangaceirismo. Vindos da Paraíba, o bando, que oscilava entre quarenta e cinco a cinqüenta e cinco homens, havia cruzado a fronteira na altura da cidade potiguar de Luís Gomes, trilhando um caminho onde não faltaram roubos, seqüestros e assassinatos. As comunidades que estavam na possível rota dos cangaceiros, portanto, estavam todas em estado de alarme. Mantiveram um vitorioso combate contra a polícia potiguar na região da atual cidade de Marcelino Vieira e, de lá, contornaram a grande Serra de Martins. Na manhã daquele domingo, os bandidos passaram próximos à pequena Vila de Gavião, atual cidade de Umarizal, sem atacá-la e continuaram seu trajeto em direção ao norte.

 
O bando de Lampião 
Sabino Gomes está em pé  à direita da Foto

             Como Sabino não conhecia a área, ele utilizava muita violência para conseguir informações sobre os proprietários mais abastados, bem como os caminhos a serem seguidos, partindo para suas rapinagens com um pequeno número de cangaceiros, mas sem se afastar muito do grosso do bando. Por volta do meio-dia, depois de "visitar" as fazendas Campos, Traíras e Arção, os liderados por Sabino dominaram a Fazenda Santana. Antes, porém, da tomada dessa última propriedade, o grupo avançou para um ataque rápido à próspera Fazenda Mato Verde.
              Assim, em meio à notícia da aproximação do bando de Lampião e a todo o tumulto que tomou conta da região, uma garotinha de dez anos, Leonila Tomé de Sousa, via seu mundo virar de pernas para o ar. Leonila era uma das dez filhas da proprietária da fazenda Mato Verde, Teonila de Sousa Nogueira. Essa senhora, como todos na região, estava assombrada com a passagem desse bando sinistro e imaginava o que poderia fazer para proteger suas filhas e outros parentes. Quanto às mulheres, principalmente, pairava o medo constante e concreto diante da ameaça de violências sexuais as quais poderiam ser perpetradas pelos cangaceiros, pelo que, era preciso esconder as moças de Mato Verde dos bandidos de Lampião.
             Segundo o pesquisador Sérgio Augusto de Souza Dantas, autor do livro, através de informações coletadas junto a José Pinto Barra, morador do Sítio Brejo, foi o agricultor Sebastião Ferreira, conhecido como "Bicho Tiota", que na noite anterior, 11 de junho de 1927, trouxe aos moradores da Fazenda Mato Verde a notícia da aproximação do bando.
           Passados oitenta e um anos, Dona Leonila recordou aos espeleólogos que ela e suas irmãs fuga da fazenda Lampião e o Rio Grande do Norte - A História da Grande Jornada debulhavam vargens de feijão, quando chegou o lavrador com a notícia, mas confessou que, na sua ingenuidade infantil, não acreditou na história de "Bicho Tiota". Lembrou, perfeitamente, que o agricultor afirmou que o bando viria pela ladeira do Sítio Riacho Preto, a pouca distância da fazenda. Diante desses fatos, sua mãe partiu para juntar tudo que pudessem carregar e se esconderem, mas, devido à chegada da noite, decidiram dormir na fazenda. Tomaram o cuidado de deixarem as portas abertas para uma rápida fuga, sempre com alguém assumindo a posição de vigilante, para alarmar ante a aproximação de estranhos.
           Pela madrugada, unidas a outros familiares, Dona Teonila Nogueira e suas filhas partiram em busca de abrigo e apoio dos parentes que habitavam na área da Fazenda Passagem Funda, a quase quatro quilômetros de sua propriedade. Segundo Dona Leonila, ao chegarem ao local, mesmo diante de toda aflição, sua mãe levou todos para orar e pedir proteção na Capela de São Pedro. Inaugurada em 29 de junho de 1903, esse templo católico foi construído pela família Barra e se mantém, até hoje, em perfeito estado de conservação, como uma lembrança daqueles tempos turbulentos.
          Na Fazenda Passagem Funda foi indicado, como esconderijo à família, um abrigo nos contrafortes do paredão  calcário que margeia o principal rio da região, o Apodi. Atualmente, esse local é conhecido como "Grota da Taipa de Zé Felix". A origem desse nome, segundo a tradição oral dos moradores locais, deve-se ao fato de ter habitado, nas proximidades do paredão, um velho senhor, o qual seria um ex-escravo. Trazendo, portanto, os pertences que puderam carregar, a família foi tratando de descer a parede do vale através de uma pequena trilha, até hoje aberta e bem conservada, buscando acomodações na exiguidade do espaço da grota.
           Somados à família de Dona Teonila Nogueira, foram os parentes Adauto Câmara, Maria Eulália Câmara e cinco filhos. A senhora Maria Eulália havia dado a luz há poucos dias, mas, mesmo debilitada, o medo era tamanho que em nenhum momento ela pensou em deixar de utilizar a gruta como abrigo. Assim, em meio ao manto da noite, todos os parentes foram se acomodando da melhor forma possível, imbuídos em um temor terrível, aterrorizados pela idéia de que, a qualquer momento, algum bandido surgisse no local.
   

Marcas da fuga: O antigo casarão da Passagem Funda, com mais de duzentos anho de 1927. Imagem de SNetto.
 
 
Mãe e filha: Leonila (abaixo) ainda guarda lembranças lúcidas da coragem da mãe, Teonila (acima). Reprodução Ricardo Morais.  
            Durante alguns dias, todos faziam o possível para evitar que a fogueira, acesa para cozinhar, fosse alta, ou exalasse muita fumaça, sendo, assim, percebida pelos cangaceiros. Dona Leonila recorda que, apesar das dificuldades passadas, os dias vividos na "Grota da Taipa de Zé Felix" não deixaram de ter seu lado de aventura e novidade para uma menina de dez anos.
           Quem atualmente visita o local, encontra-o preservado, como era naqueles estranhos dias de junho de 1927. O panorama da parte mais alta do paredão é belíssimo, marcado pelos meandros largos e sinuosos do Apodi. Mais à frente, avista-se o antigo pontilhão, o qual liga as duas margens do rio.
           O acesso à cavidade é difícil, devido ao declive, devendo ser feito com cuidado, sendo a área bem provida de árvores, que margeiam o rio. Apesar do local estar localizado a uma distância média de vinte metros das águas do Apodi, à meia altura do paredão, chamam atenção três frondosas e antigas oiticicas (Licarnia rigida) que camuflam totalmente a cavidade, compreendendo-se o porquê da utilização dessa área como esconderijo.
           Quem está à distância, praticamente ignora que naquele ponto há um abrigo com condições mínimas para seres humanos se protegerem dos elementos naturais, na forma qual se valeram àquelas pessoas. Sobre a cavidade, tecnicamente, ressalta-se que sua formação está intimamente relacionada aos meandros do Rio Apodi.
            Sua gênese está associada ao desprendimento de um grande bloco calcário, que gerou uma fratura na parte alta do paredão. Tal fratura é bastante visível aos que caminham na trilha, denotando as largas possibilidades de haver, logo abaixo, alguma estrutura espeleogenética. A Grota da Taipa de Zé Félix é um abrigo calcário que se estende por praticamente cem metros, acompanhando à margem do rio. Em alguns trechos, torna-se mais profundo, mas, em média, é bem raso. Sua importância história e cênica, porém, é inquestionável, destacando-se o local como de relevante valor ambiental.
          Os cuidados tomados pela mãe de Dona Leonila Sousa tiveram fundamento. Na tarde do dia 12 de junho de 1927, Sabino e seu pequeno grupo de cangaceiros estiveram na Fazenda Mato Verde.
          Ao encontrarem a propriedade abandonada e desprovida de objetos de valor, os celerados quebraram inúmeros objetos, praticando desordens, retornando, entretanto de mãos vazias. Contudo, ainda nesse dia, Sabino conseguiria saborear uma vitória. Por volta das quatro horas da tarde, o pequeno grupo de cangaceiros seguia o caminho de retorno à Fazenda Santana para se juntarem ao bando sinistro. Foi quando o cangaceiro conhecido como "Coqueiro" avistou um carro com dois ocupantes e o ordenou parar.
          Não sendo obedecido, o bandido não titubeou e abriu fogo contra o velho. No automóvel seguia o motorista Francisco Agripino de Castro, conhecido em Mossoró Chevrolet como "Gatinho" e o rico comerciante e fazendeiro Antônio Gurgel do Amaral, que buscava alcançar a sua fazenda no lugarejo conhecido como "Brejo do Apodi". Sabino fez ambos prisioneiros e os levou ao encontro de Lampião.
           O chefe, então, ordenou que o motorista "Gatinho" levasse um pedido de resgate à família do prisioneiro. Para Antônio Gurgel do Amaral, homem culto, que havia feito parte da Intendência de Natal (cargo na atualidade equivalente ao de prefeito), produtor de algodão de reconhecida capacidade, começava um suplício que o faria prisioneiro do bando de Lampião até 25 de junho. Sobre o seqüestro, Gurgel deixou como legado um pequeno e precioso diário de sua convivência com o bando de cangaceiros.
           Para muitos na região, persiste a idéia de que o provável objetivo do sub-grupo de cangaceiros de Sabino não seria a Mato Verde, mas a pequena Vila de Pedra de Abelha, atual município de Felipe Guerra. Talvez pelo fator tempo, distância, dificuldades de acesso ou por terem informações de que a vila era pequena, Sabino desistiu do intento. Para Dona Leonila e seus familiares, protegidos no abrigo de calcário, esses acontecimentos eram desconhecidos.
          Ela informou que várias outras pessoas buscaram abrigos nas cavernas da região, principalmente nas cavernas do "Lajedo do Rosário". Igualmente, os mais idosos moradores da Passagem Funda, narram histórias de pessoas abrigadas em cavidades naturais, como a Carrapateira. Durante aqueles dias de medo, mesmo após a chegada da notícia do fracasso do ataque do bando de Lampião a Mossoró, poucos ousaram voltar às suas moradias. Como a localização do bando continuava incerta e as notícias eram todas tratadas como boatos, a atitude mais prudente era continuar em seus esconderijos. Segundo Dona Leonila, no caso de sua família, a permanência na cavidade foi de quase trinta dias.
 
 
 
 
Patrimônio natural e cultural: A proximidade do Rio Apodi faz com que o entorno do abrigo possua rica fauna e flora, o que, somado à importância cultural do local, reforça a necessidade de preservação. O antigo casario, contemporâneo à época do ataque, ainda se encontra bem preservado (acima). Imagem de S. Almeida Netto. 
            A história do cangaço, especificamente no tocante ao ataque de Lampião a Mossoró, verdadeiro divisor de águas na vida desse cangaceiro, já foi contada e recontada em vários livros, jornais, folhetos de cordéis e em inúmeros trabalhos acadêmicos. Contudo, muitos detalhes paralelos à passagem do bando de cangaceiros pela região foram deixados de lado e gradativamente são esquecidos. Nesse sentido, ouvir e resgatar essa história, através das lúcidas lembranças de Dona Leonila Sousa, no alto dos seus bem vividos noventa e um anos, é grande privilégio.

 
Matéria da revista eletrônica Lajedos n. 1 - Abril de 2008.

Madre Tereza de Calcutá


Mother Teresa.jpg
Madre Tereza de Calcutá

             Agnes Gonxha Bojaxhiu Skopje, nasceu no dia 26 de Agosto de 1910, e faleceu no dia  5 de Setembro de 1997. Conhecida mundialmente como Madre Teresa de Calcutá, ou Beata Teresa de Calcutá. Foi uma missionária católica albanesa. Nascida na República da Macedônia e naturalizada indiana, beatificada pela Igreja Católica em 2003.
            Considerada por alguns, a missionária do século XX, fundou a congregação "Missionárias da Caridade", tornando-se conhecida ainda em vida pelo cognome de "Santa das sarjetas".

Local de nascimento da:
 Madre Teresa em Skopje, Macedônia.

              Agnes Gonxha Bojaxhiu filha de pais albaneses, numa família de três filhos, sendo duas moças e um rapaz. Embora ela tenha nascido a 26 de agosto, ela considerava o 27 de Agosto, o dia em que foi batizada, como o seu " verdadeiro aniversário".

 
Casa memorial de Madre Teresa em Macedônia.

              Aos 12 anos ouviu um jesuíta que era missionário na Índia dizer: “Cada qual em sua vida deve seguir seu próprio caminho”. Tais palavras a impressionaram e se determinou a dar um sentido à sua vida, a entregar-se a serviço dos outros: fazer-se missionária. E já nesta idade procurou o referido jesuíta para saber como fazer isso, ao que o prudente homem respondeu que aguardasse a confirmação do tempo e da “voz de Deus”.

 

               Conforme uma biografia de Joan Graff Clucas, em seus primeiros anos era fascinada pelas histórias das vidas dos missionários. Dia 15 de agosto de 1928, seis anos mais tarde, cada vez mais convicta de sua vocação, enquanto rezava no santuário da Madona Negra de Letnice onde muitas vezes foi em peregrinação, decidiu se comprometer com a vida religiosa. Solicitou a admissão na Congregação das Irmãs do Loreto que trabalhava em Bengala, mas teve primeiro de aprender a língua inglesa em Dublim. De Dublim foi enviada para a Índia em 1931 a fim de iniciar seu noviciado em Darjeeling no colégio das Irmãs de Calcutá.

              No dia 24 de maio de 1931, fez a profissão religiosa, e emitiu os votos temporários de pobreza, castidade e obediência tomando o nome de "Teresa". A origem da escolha deste nome residiu no fato de ser em honra à monja francesa Teresa de Lisieux, padroeira das missionárias, canonizada em 1927 e conhecida como Santa Teresinha.

Madre Teresa ao lado do médico
Dr. Theodor Binder em Wilmington, NC, 1975
              De Darjeeling passou para Calcutá, onde exerceu, durante os anos 30 e 40, a docência em Geografia no colégio bengalês de Sta Mary, também pertencente à congregação de Nossa Senhora do Loreto. Impressionada com os problemas sociais da Índia, que se refletiam nas condições de vida das crianças, mulheres e velhos que viviam na rua e em absoluta miséria, fez a profissão perpétua a 24 de maio de 1937.
Com a partida do colégio, tirou um curso rápido de enfermagem, que veio a tornar-se um pilar fundamental da sua tarefa no mundo.

Presidente da Itália Sandro Pertini
recebendo a Madre Teresa, em 1978.

              Em 1946, decidiu reformular a sua trajetória de vida. Dois anos depois, e após muita insistência, o Papa Pio XII permitiu que abandonasse as suas funções enquanto monja, para iniciar uma nova congregação de caridade, cujo objetivo era ensinar as crianças pobres a ler. Desta forma, nasceu a sua Ordem – As Missionárias da Caridade. Como hábito, escolheu o sári, nas cores — justificou ela — "branco, por significar pureza e azul, por ser a cor da Virgem Maria". Como princípios, adotou o abandono de todos os bens materiais. O espólio de cada irmã resumia-se a um prato de esmalte, um jogo de roupa interior, um par de sandálias, um pedaço de sabão, uma almofada e um colchão, um par de lençóis, e um balde metálico com o respectivo número.

Madre Teresa durante sua visita a Cúcuta,
Colômbia em 1981.

             Começou a sua atividade reunindo algumas crianças, a quem começou a ensinar o alfabeto e as regras de higiene. A sua tarefa diária centrava-se na angariação de donativos e na difusão da palavra de alento e de confiança em Deus.
              No dia 21 de dezembro de 1948, foi-lhe concedida a nacionalidade indiana. A partir de 1950 empenhou-se em auxiliar os doentes com lepra.
Em 1965, o Papa Paulo VI colocou sob controle do papado a sua congregação e deu autorização para a sua expansão a outros países. Centros de apoio a leprosos, velhos, cegos e doentes com HIV surgiram em várias cidades do mundo, bem como escolas, orfanatos e trabalhos de reabilitação com presidiários.

Estátua da Madre Teresa em Skopje, Macedônia.

Servindo ao mundo

              O primeiro lar infantil ou "Sishi Bavan" (Casa da Esperança), fundada em 1952, juntou-se ao "Lar dos Moribundos", em Kalighat.
             Mais de uma década depois, em 1965, a Santa Sé aprovou a Congregação Missionárias da Caridade e, entre 1968 e 1989, estabeleceu a sua presença missionária em países como Albânia, Rússia, Cuba, Canadá, Palestina, Bangladesh, Austrália, Estados Unidos da América, Sri Lanka|Ceilão, Itália, antiga União Soviética, China, etc.
             O reconhecimento do mundo pelo seu trabalho concretizou-se com o Templeton Prize, em 1973, e com o Nobel da Paz, no dia 17 de outubro de 1979.


               Morreu em 1997 aos 87 anos, de ataque cardíaco, quando preparava um serviço religioso em memória da Princesa Diana de Gales, sua grande amiga e falecida ela própria 6 dias antes, num acidente de automóvel em Paris. Tratado como um funeral de Estado, vários foram os representantes do mundo que quiseram estar presentes para prestar a sua homenagem. As televisões do mundo inteiro transmitiram ao vivo durante uma semana, os milhões que queriam vê-la no estádio Netaji. No dia 19 de outubro de 2003, o Papa João Paulo II beatificou Madre Teresa.
O seu trabalho missionário continua através da irmã Nirmala, eleita no dia 13 de março de 1997 como sua sucessora.



              Um de seus pensamentos era este: “Não usemos bombas nem armas para conquistar o mundo. Usemos o amor e a compaixão. A paz começa com um sorriso”. Criou as missionárias da caridade, onde todas as freiras iriam ajudar não a ela, mas sim a todos os necessitados. Todos registrados.

A "noite escura" de Madre Teresa

             Uma coleção de cartas dirigidas a uns poucos conselheiros espirituais e recolhidas no livro "Madre Teresa venha, seja minha luz" (Mother Teresa: Come Be My Light) publicado em 4 de setembro de 2007, traduzido e publicado no Brasil pela editora Thomas Nelson, organizado pelo Padre Brian Kolodiejchuk, postulador da causa da sua canonização revelaram, segundo alguns, dúvidas profundas de madre Teresa sobre sua fé em Deus, provocando discussões sobre uma possível posição agnóstica.



              Madre Teresa, em suas cartas, descreveu como sentia falta de respostas de Deus. Em 1956 escreveu: "Tão profunda ânsia por Deus - e ... repulsa - vazio - sem fé - sem amor - sem fervor. Almas não atrai - O céu não significa nada - reze por mim para que eu continue sorrindo para Ele apesar de tudo." Em 1959:  "Se não houver Deus - não pode haver alma - se não houver alma então, Jesus - Você também não é real."



              Uma de suas cartas ao Padre Neuner dizia: "Pela primeira vez ao longo de 11 anos - cheguei a amar a escuridão. - Pois agora acredito que é parte, uma parte muito, muito pequena da escuridão e da dor de Jesus neste mundo. O Senhor ensinou-me a aceitá-la [como] um 'lado espiritual de sua obra', como escreveu. - Hoje senti realmente uma profunda alegria - que Jesus já não pode passar pela agonia - mas que quer passar por mim. - Abandono-me a Ele mais do que nunca. - Sim - mais do que nunca estarei à disposição."



             No entanto, o texto de suas cartas não deve afetar a campanha por sua santificação, já que a Igreja defende que outros santos também demonstraram dúvidas em relação a sua fé, como por exemplo São Tomé.

A crise espiritual.

              Segundo o postulador da causa da canonização de Madre Teresa e autor do livro, a sua crise espiritual começou nos anos 50, logo após a fundação da ordem das Missionárias da Caridade; a partir daí "viveu uma grande fase de escuridão interior que se prolongou até a sua morte". "Sabia que estava unida a Deus, mas não conseguia sentir nada" Este fenômeno é conhecido na tradição e na teologia mística cristã, e foi São João da Cruz quem o chamou de noite escura do espírito, o que considera uma etapa no caminho de alguns santos no caminho de identificação com Deus.
Silêncio divino.

              Bento XVI comentando as cartas disse que este silêncio serve para que os crentes percebam a situação daqueles que não acreditam em Deus. Falando sobre as experiências místicas da beata disse que "tudo aquilo que já sabíamos se mostra agora ainda mais abertamente: com toda a sua caridade, a sua força de fé, Madre Teresa sofria com o silêncio de Deus".

Antídoto contra o sentimentalismo.

              Kolodiejchuk enxerga na atitude da beata um antídoto contra o sentimentalismo: "A tendência em nossa vida espiritual, e também na atitude mais geral relativamente ao amor, é que o que conta são os nossos sentimentos. Assim a totalidade do amor é o que sentimos. Mas o amor autêntico a alguém requer o compromisso, fidelidade e vulnerabilidade. Madre Teresa não "sentia" o amor de Cristo, e poderia ter cortado, mas levantava-se às 4:30 h. cada manhã por Jesus e era capaz de escrever-lhe: Tua felicidade é o único que quero. Este é um poderoso exemplo, inclusive em termos não puramente religiosos."

Santa da escuridão.

              O jornal The New York Times em editorial de 5 de setembro de 2007 assinala que Madre Teresa em uma de suas cartas afirma que se alguma vez chegarei a ser santa, seguramente o serei da escuridão. O editorial cita a jornalista e escritora Flannery O’Connor, católica, que passou por uma difícil enfermidade de natureza degenerativa, que escreveu que existem pessoas que "pensam que a fé é um grande cobertor elétrico, quando é com certeza a cruz". O artigo procura estabelecer um paralelismo entre o sofrimento dessas duas mulheres quando considera que "ambas não falaram sobre o seu próprio sofrimento e continuaram a trabalhar. "Madre Teresa, enferma de nostalgia por um sentido do divino, manteve a fé com os enfermos de Calcutá", conclui o editorial.


               Michael Gerson, colunista do Washington Post, a respeito da "noite escura" de Madre Teresa, escreve que este fato interior e o contraste externo de sua alegria e sorriso não podem ser considerados como se fosse hipocrisia. Afirma que "Há uma espécie de valentia na perda da ilusão sem perder o coração" e que "a santidade tem que ver mais com obediência que com sentimentos espirituais, que a fé pode coexistir com o sofrimento e a dúvida, que a santidade pode ser mais áspera e mais difícil do que imaginamos".



Deus Caritas Est

               Bento XVI na sua encíclica Deus caritas est, de 25 de dezembro de 2005, "sobre o amor cristão", cita Madre Teresa como exemplo de pessoa de oração e ao mesmo tempo de fé operativa:

               A piedade não afrouxa a luta contra a pobreza ou mesmo contra a miséria do próximo. A beata Teresa de Calcutá é um exemplo evidentíssimo do fato que o tempo dedicado a Deus na oração não só não lesa a eficácia nem a operosidade do amor ao próximo, mas é realmente a sua fonte inexaurível. Na sua carta para a Quaresma de 1996, essa beata escrevia aos seus colaboradores leigos: 'Nós precisamos desta união íntima com Deus na nossa vida cotidiana. E como poderemos obtê-la? Através da oração.



Beatificação e canonização

               Foi beatificada em 19 de outubro de 2003, com a ocorrência de um milagre ocorrido com Monica Besra, uma indiana, que foi curada de um tumor no estômago de forma inexplicável e cuja cura foi atribuída a Madre Teresa. Segue em aberto o processo de sua canonização.

Títulos e homenagens

              Padma Shree - Índia, 1962.
              Ramon Magsaysay Award Foundation - Filipinas, 1962.
              Doutora honoris causa em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade Católica do Sagrado Coração.
              Prêmio Nobel para a Paz - 1979.
              Medalha Presidencial da Liberdade - Estados Unidos, 1985.

Cinema e literatura

              - Madre Teresa é o tema do filme-documentário (1969) e do livro Algo bonito por Deus (1971) de Malcolm Muggeridge.
              - Madre Teresa: Em Nome dos Pobres de Deus é um filme de 1997 dirigido por Kevin Connor estrelado por Geraldine Chaplin. Ganhou em 1998 o prêmio Art Film Festival.



               - A vida de Madre Teresa foi retratada em 2003 em minissérie de televisão italiana Madre Teresa, estrelada por Olivia Hussey como Madre Teresa. Posteriormente, foi lançado internacionalmente como um filme de televisão Madre Teresa de Calcutá e recebeu o Prêmio Camie em 2007.


Se você quiser saber mais sobre a vida de Madre Tereza de Calcutá,
leia em:

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Página do Poeta - Canção do Exílio - Gonçalves Dias

 Gonçalves Dias
 


 
           Antônio Gonçalves Dias nasceu no ano de 1823 em Caxias, no Estado do Maranhão, e faleceu no ano de 1864. Era formado em Direito pela  Universidade de Coimbra, retornando ao Brasil em 1845.
           Vivendo em  São Luís, apaixona-se por Ana Amélia, e com o fracasso do relacionamento amoroso por pressões da família dela, já que o poeta era filho de pai português e de mãe mestiça, mesmo assim ele dedicou o poema "Ainda uma vez... Adeus!" a amada.

           Tuberculoso, vai à Europa em 1862 para tratar da saúde; combalido e reduzido à miséria, decidiu voltar, morrendo em naufrágio à vista das costas do Maranhão.

       Gonçalves Dias era clássico na forma e no estilo, por formação literária, foi, por índole, o poeta das tradições e da alma popular brasileira.

             Pertenceu à primeira geração do Romantismo Brasileiro. Delicado e melancólico, criou o indianismo romântico, impondo-se como uma das maiores figuras da nossa literatura.

         É considerado o mais maduro dos românticos brasileiros, o nosso maior poeta romântico. Seus versos encerram eloquência e unção, lirismo, grandiosidade e harmonia.

      Escreveu : Primeiros Cantos, Segundos Cantos, Últimos Cantos, Sextilhas de Frei Antão, I-Juca Pirama, Dicionário da Língua Tupi, Os Timbiras e os dramas Beatriz Cenci, Leonor de Mendonça, Boabdil, Patkul, etc. 
 
Canção do exílio
 
Gonçalves Dias
 


Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em  cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.