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quarta-feira, 16 de março de 2011

O Cangaceiro e o presidente


 
             O Cangaceiro Antonio Silvino, após a sua prisão, proeza de Theophanes Ferraz no final de novembro de 1914 na cidade de Taquaritinga, PE, foi transferido para a Casa de Detenção do Recife ( Vide foto, logo abaixo ), onde , após julgamentos pelos crimes praticados, o judiciário aplicou-lhe uma pena total de 39 anos e quatro meses de reclusão.
             Após cumprir mais de 23 anos de prisão, o velho cangaceiro, incentivado por amigos do cárcere, dirigiu uma "Carta", ao Presidente Getúlio Vargas solicitando o " Indulto ", haja vista que, no seu entendimento, já era demasiado o tempo de recolhimento á prisão, pois, achava que já tinha pago pelos seus crimes.
              Em 04 de Fevereiro de 1937, Silvino recebera a grande notícia: O Presidente havia lhe concedido o Indulto, a que tanto almejava.
 
               Casa de Detenção do Recife ( Fonte: Carvalho Araújo), onde Silvino cumpriu pena. Prédio construído em meados do século XIX para ser utilizado como cadeia. Em 1975 foi transformado em centro de cultura regional com lojas de artesanato, restaurantes, apresentações folclóricas e exposições de artes.

            No dia 17 de Fevereiro de 1937, o juiz titular da Primeira Vara de Recife, expediu o " Alvará de Soltura " em favor do grande bandoleiro. Pagara pelos seus crimes um total de 23 anos, 02 meses e 18 dias de detenção, na velha cadeia.
Soltura de Antonio Silvino. Cortesia Sérgio Augusto de Souza Dantas.

             Ao sair da solitária, Silvino estava velho. Os cabelos brancos envelhecidos pelo tempo. Morrera ali, o "governador do sertão " . O ex-cangaceiro voltara a ser um homem, como qualquer outro. Com pouco tempo, percebera que estava sem emprego, sem dinheiro e sem um pedaço de terra para que pudesse retirar seu sustento.
             Orientado por familiares e amigos, ainda no primeiro semestre de 1938, se dirigiu ao Rio de Janeiro, a fim de conseguir uma audiência com o Presidente Getúlio, a quem solicitaria um emprego.
 
Foto do aludido encontro

             Silvino conseguira um cargo comissionado, e passou a trabalhar na construção da estrada Rio - Salvador. Algum tempo depois, ao ser entrevistado por um repórter do jornal " A Noite " , sobre o trágico fim de Lampião , Silvino disparou :
             "Não me causou admiração, porque a vida é incerta, mas a morte é certa. Logo,Lampião tinha que desaparecer mais hoje ou mais amanhã. Acredito que os homens tinham sido pegados dormindo, mas fico espantado, de ver como caíram tão facilmente na ratoeira, porque Lampião era prevenido de verdade" ( Rocha, pg.159).
             O repórter indagou-lhe, mais incisivo:
             - Estará resolvido, Silvino, o problema da extinção do banditismo?
             Ao que respondeu, o velho cangaceiro:            " - Isto não acaba assim. O rifle não conserta nada. Morreu Lampião. Outros 'Lampiões' aparecerão ! E o mundo por aqui continuará girando, até que a Justiça bata as portas do sertão ! É de Justiça que o sertão precisa" ( Rocha, pág 160 ). 
 
           O velho Antonio Silvino terminou os seus últimos dias, na casa da prima Teodulina, na cidade de Campina Grande/PB, (Vide foto), tendo falecido na manhã do dia 28 de julho de 1944, em consequência de glomérulo nefrite crônica - Uremia - conforme atestado firmado pelo Dr. Bezerra de Carvalho, deixando oito filhos naturais. (Dantas, pg 261).
           Está enterrado no cemitério Monte Santo, na cidade de Campina Grande, PB. Passados dois anos e meio do seu falecimento, nenhum familiar apareceu para a retirada dos ossos de Antônio Silvino. Sem alternativa, os coveiros enterram os restos mortais em um outro lugar do cemitério. Hoje, não se sabe mais aonde.
 
Monumento simbólico para Silvino
 
Foto de  Mario Vinicius Carneiro.
 
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA :

- DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. ANTÔNIO SILVINO, O cangaceiro, O homem e o Mito. 1ª Edição. Editora/Gráfica Cartograf. Natal/RN, 2006. 313 pgs.

- ROCHA, Mechíades da. BANDOLEIROS DAS CAATINGAS, 2ª edição. Livraria Francisco Alves S/A. Rio de Janeiro, 1988. 178 pgs.

- BARBOSA, Severino. ANTÔNIO SILVINO, O RIFLE DE OURO. Segunda Edição. Companhia Editora de Pernambuco - CEPE, Recife/PE., 1979. 260 pgs.

Um abraço a todos.
IVANILDO ALVES SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC
Natal/RN.
 
Foto perfil: Família Daniel História
 
 
Este material foi extraído do Blog: "Lampião Aceso" do amigo Kiko Monteiro.

A Morte de Isaias Arruda - Por: José Cícero

José Cícero e Manoel Severo

               A tarde estava cinzenta naquela Aurora pacata e provinciana de 1928. Uma enorme sensação de tranqüilidade cobria os semblantes dos viajantes, assim como o coração e o pensamento da multidão que se aglomerava na pedra da estação. Uma cena comum a todas as cidades interioranas atendidas pelo velho trem da Rede Ferroviária Cearense(RVC). Nuvens cor de chumbo em formação pareciam prenunciar no céu daquela Aurora antiga e calma, algo diferente prestes a ocorrer: uma tragédia. 
               Naquela tardezinha quase insossa de sábado, dia 4 de agosto de 1928 quando muitos já se esqueciam dos episódios um ano antes relacionado à presença do rei do cangaço na terrinha; o velho aparelho do telégrafo da RVC de novo estava prestes a receber no código morse um telegrama diferente. Um comunicado estranho; digamos que chave, para todos os desdobramentos do acontecimento dramático que se seguira ao fato: “Antonio, algodão hoje sobe!”. Uma missiva quase enigmática considerando que o algodão – o ouro branco d’Aurora faria sempre o sentido contrário, ou seja, descia. E o seu preço no mercado há muito era de todos conhecido.
 
Coronel Isaias Arruda

               Porém, aquela mensagem codificada não seria de todos estranha. Havia um destino e um desiderato certo: surpreender o coronel. Dizia muito mais do que ali estava escrito de modo lacônico... A estação de Aurora estava repleta de gente. Um acontecimento que se tornara comum deste a sua inauguração oito anos antes em 7 de setembro de 1920.
                  E a cronologia do momento seguinte, provaria depois para todos que era um crime. Um atentado violento à ordem e a vida em nome da vingança e da intolerância. Uma intriga passada à limpo, expressa na força da violência e da ignorância em detrimento da razão e da justiça. Sinais de uma época densamente marcada pelo poder de fogo do coronelismo oligárquico, engendrado pelos mais temíveis e truculentos líderes políticos que o Cariri cearense já experimentou. Um período onde a lei no mais das vezes era a do mais forte e a justiça quase sempre era feita pelas próprias mãos, em geral, dos poderosos.
              Naquele sábado, de tarde escura de agosto, a estação de Aurora não tardaria a ser palco de um episódio que marcaria à história do Cariri e do Ceará para sempre, vez que envolveria, aquele que foi certamente o mais famoso e temível chefe político da região: o coronel Isaias Arruda. Filho do lugar, ex-delegado, agora prefeito pela força da vizinha Missão Velha. De quebra, o maior dos coiteiros de Lampião no interior cearense. Um autêntico mantenedor de jagunços e hábil negociador político junto aos grandes da capital.
Estação de Aurora, aqui tombou Isaias Arruda

               O relógio do prédio apontava 14h25min quando, finalmente, todos puderam escutar o apito estridente da máquina a ecoar no horizonte. Apenas Sabina entretida demais com o seu café não se deu conta do acontecido. Todos, de repente voltaram suas atenções na direção do corte-grande lá para as bandas do alto da cruz, do sito Frade. O trem da Fortaleza vinha ligeiro beirando o rio Salgado.
              Exímios chapeados transportavam com pressa e celeridade grandes caixotes, pacotes e outros fardos de mercadorias. Uns descian para o armazém da RVC outros subian para os vagões do trem com destino ao Crato. Animais, peças de madeira, artesanato, aguardente, rapadura, oiticica, panelas de barro. O trem acelerava a curiosidade, tanto quanto a economia daquela terra.
              Mas de repente o som de um tiro seco ribombeou no ar. Quebrando a normalidade natural daquele acontecimento diário. Em seguida vários outros disparos puderam ser ouvidos no interior do segundo vagão da primeira classe. Talvez sete ou oito no total... Até hoje ninguém sabe ao certo. Um silêncio quase sepulcral se abateu na plataforma por alguns instantes que pareceram eternos. Somente o ronco da locomotiva estacionada deforfronte a caixa d’água. Em seguida uma correria...
              Vozes diziam tratar-se de uma discussão. Três homens saíram atracados e em seguida correram no sentido contrário do vagão. Uma disparada em direção do armazém e depois para o beco da antiga rua que dava para o cemitério. Um quarto homem um tanto elegante, bem tratado, gestos aparentemente finos surgiu do segundo vagão da primeira classe. Vestindo impecavelmente um linho branco, ele pisou de modo esquisito e desaprumado o piso, a pedra da estação. Alguns passos apenas e cambaleando fitou a multidão como quem quisesse dizer algo. Não foi possível. Sangrando e com a mão direita colada ao peito chamava baixinho pelo primo. O linho branco do seu terno agora começava a se tingir de vermelho. Seus sapatos de cor marrom e bem polidos contrastavam com o vermelho escuro do seu próprio sangue formando porças na plataforma. Era o coronel Isaias Arruda, chefe político, prefeito da Missão Velha. Homem afamado em toda região e na capital do estado. Devagar caiu ao chão da plataforma ainda com arma junta ao cinto da calça. Não teve tempo de usá-la.
Grupo de jagunços de Isaias Arruda, sob o comando de Zé Gonçalves

               Alguém saindo de dentro do vagão posterior se aproxima dele e forra o chão da pedra com um jornal que lia; edição do dia 3. Seu braço esquerdo e parte superior do tórax estavam em frangalhos. Ferimentos gravíssimos provocados pelos sete balanços com que fora atingido.O coronel ferido seriamente pronunciava baixinho como que cansado:
                - Os irmãos paulinos me acertaram! Mas como é que nem o Viana nem ninguém me avisou que meus inimigos estavam aqui?! Bando de covardes...
                E de chofre emendou:
                - alguém me chame o farmacêutico! Foram os Paulinos, eles me acertaram... Bando de covardes!
             Outros mais ousados e corajosos aos poucos foram se aproximando da vítima que gemia deitada ao solo da pedra sobre as folhas do jornal ‘O Ceará’. Enquanto isso, um pouco afastado da estação José Furtado(Nequinho de Milica) primo da vítima saíra em perseguição(ou fugindo) dos irmãos paulinos: Antonio e Francisco, responsáveis pelo atentado.
               Levado para a residência de Augusto Jucá um antigo amigo na rua grande, Isaias foi socorrido, inicialmente por um farmacêutico - o único que existia na cidade. No dia seguinte dois médicos vindo de trole pela linha da RVC: Antenor Cavalcante e Sérgio Banhos atenderam o coronel. Porém, diante das gravidades dos ferimentos não tiveram como salvá-lo. Sendo que no dia 8 de abril uma quarta-feira às 6h da manhã, quatro dias após ser alvejado, Isaias Arruda faleceu como que por capricho do destino na terra em que nascera.
Casa de Isaias Arruda em Missão Velha

                Rumores apontaram ter sido o assassinato uma vingança de Lampião pela traição do coronel um ano antes, durante a célebre tentativa de envenenamento do bando lampiônico e o histórico cerco de fogo do sítio Ipueiras, propriedade de Arruda em Aurora em cujo local Virgulino se arranchara por diversas vezes. Ocasião em que o rei do cangaço fugia das volantes após o fracasso da invasão de Mossoró, arquitetada sob as estratégias de Massilon Leite e financiada pelo próprio Isaias.
              Mas o certo, segundo se provaria depois foi que os paulinos vingaram o assassinato do irmão mais velho João, morto numa emboscada no serrote d’Aurora pelos jagunços de Arruda no ano anterior.
               Terminava ali de modo trágico, na estação ferroviária de Aurora a verdadeira saga de um dos mais temíveis e respeitados coronéis do Cariri - Isaias Arruda. Assim como sua rixa ferrenha contra os irmãos paulinos da Aurora

Prof. José Cícero.
Escritor, Pesquisador e Poeta.
Secretário de Cultura de Aurora, Ce.
Este artigo foi extraído do Blog: "Cariri Cangaço" - do amigo Manoel Severo

Michael Jackson - O Rei do Pop

Por: José Mendes Pereira
Uma breve biografia


Foto: bleffepoprock.blogspot.com

               Michael Joseph Jackson nasceu em Los Angeles, no dia 29 de agosto de 1958 e faleceu em sua cidade natal no dia 25 de junho de 2009. Foi um dos maiores líderes da musica pop. Além de cantar era compositor, dançarino, multiinstrumentista e produtor norte-americano.
               Michael Jackson era filho de Joseph e Katherine Jackson. Teve como irmãos os seguintes: Rebbie, Jackie, Tito, Jermaine, LaToya e Marlon, Randy e Janet. A situação não era muito boa, onde viviam em uma pequena casa de dois quartos. O pai sustentava a família trabalhando em uma siderúrgica. A mãe muito cedo colocou os filhos em uma igreja: “Testemunhas de Jeová” e passaram a praticar a evangelização de porta em porta. Mas esta religião não agradava o pai.

Foto: claudiafarnesi.com.br

                O pai de Michael era carrasco, fazendo com que os filhos vivessem trancados em casa enquanto ele trabalhava até tarde da noite. Mas os filhos gostavam de fugir de casa e iam para a casa de vizinhos. E lá, onde cantavam e faziam música. Desobediente, o filho mais velho gostava de usar a guitarra do pai, coisa que se ele soubesse dava bronca nele. 
                Certo dia o pai tomou conhecimento do talento dos filhos e procurou ganhar dinheiro através disso, saindo de Gary e foi para a Califórnia, e mais tarde foram contratados pela Motown.
                 Michael Jackson começou a mostrar o seu talento aos cinco anos de idade, cantando  e  dançando, iniciando-se na carreira profissional aos onze anos como vocalista dos Jackson 5, grupo de irmãos. Mas em 1971 deu início a sua carreira solo,  permanecendo como membro do grupo, que logo foi reconhecido como  Rei do Pop (King Of Pop).

Foto: caras.com.br

                Michael Jackson não teve dificuldade para dominar a música, e na década de 1980, tornou-se uma figura dominante na música popular e o primeiro cantor afro-americano a receber exibição constante na MTV. Com isso só o fez crescer e seus vídeos musicais transmitidos pela MTV, como "Beat It", "Billie Jean" e "Thriller" foram creditados como a causa da transformação do videoclipe em forma de promoção musical e também de ter tornado o então novo canal famoso. Vídeos como "Black or White", "Scream", "Earth Song", entre outros, mantiveram a alta rotatividade dos vídeos de Jackson durante a década de 1990.

Foto: seteponto7.com

                Michael Jackson criou uma nova dança, utilizando especialmente os pés. Com suas performances no palco e clipes, Jackson popularizou uma série de complexas técnicas de dança, como o Robot, o "The Lean" (inclinação de 45º), o famoso "Moonwalk". Seu estilo irreverente de cantar e dançar, bem como a sonoridade de suas canções, fez com que muitos dançarinos e cantores entrassem  nos ramos do hip hop, pop, R&B e rock. 
               Michael Jackson foi um filantropo e humanitário, fazendo doações  milionárias  de dólares, beneficiando 39 centros de caridades, através de sua própria fundação.

Foto: contigo.abril.com.br

                No entanto, outros aspectos da sua vida pessoal, como a mudança de sua aparência, principalmente a da cor de pele devido ao vitiligo geraram controvérsia significante a ponto de prejudicar sua imagem pública. 

Michael Jackson e Priscilla Presley 
          Foto: mauditos.wordpress.com                

                 No ano de 1993 foi acusado de abuso infantil, mas a investigação foi arquivada devido a falta de provas e Jackson não foi a tribunal. Depois, casou-se e foi pai de três filhos, todos os quais geraram controvérsia do público. Em 2005, Jackson foi julgado e absolvido das alegações de abuso infantil. 
                           
O sonho acabou para o Rei do Pop!


O rei do Pop, Michael Jackson,  faleceu no dia 25 de junho de 2009.
O seu caixão custou 25 mil dólares.

O Combate da Fazenda Ipueiras - Serrita Por:Ivanildo Silveira


Cel. Pedro Xavier das Ipueiras

             No dia 03 de fevereiro de 1927, na Fazenda Ipueiras, hoje município de Serrita/PE, naquela época município de Leopoldina, hoje Parnamirim, no alto sertão pernambucano,  ocorreu um grande combate entre a Família do Cel. Pedro Xavier e Lampião e seu bando.
 
Lampião

             Ipueiras, de certo modo, possuía uma situação privilegiada, de solo fértil, água; lá se produzia cana-de-açucar, para fazer moagens, arroz, batata e demais produtos da terra destinados á alimentação da população, a pescaria nos açudes e a atividade agropecuária. O excedente era comercializado na feira semanal localizada na Vila de Ipueiras, encravada na Fazenda de mesmo nome.

             O Coronel Pedro Xavier, homem flexível, hospitaleiro e generoso, exerceu também o cargo de juiz  interino de direito na vacância do titular da comarca de Leopoldina. Morava no casarão da Fazenda Ipueiras e teve numerosa prole. Os descendentes, os familiares dos Xavier; uns moravam na Fazenda  e outros na Vila de Ipueiras – uma incipiente urbanização com um pequeno mercado semanal, uma escola, uma agência de correio, farmácia, mercearia, padaria, loja, que na sua maioria, pertenciam aos próprios membros da família, uma espécie de feudo.

 Serrita em detalhe

              Na década de vinte , do século passado, eram comuns as andanças de bandos de cangaceiros, por todo o nordeste. Lampião perambulava pelas caatingas, assaltando, matando, extorquindo, pequenos, médios e grandes proprietários de terra.

             De início, Lampião e o seu bando passaram em “paz” pela Ipueira, em 26 de maio de 1925, quando o Cel. Pedro Xavier não fugindo da costumeira hospitalidade,  mandou fornecer-lhe comida, roupas e lenços tirados da loja de um de seus filhos Gumercindo.
 
             Naquela oportunidade,  as filhas e as noras do Cel. Pedro Xavier foram proibidas de se apresentarem para conhecer Lampião e seu bando, para evitar que os cabras cometessem algum atrevimento.
 
             O Cel. Pedro Xavier, um tanto constrangido de ter dado guarida a Lampião, pois soube de algumas bobagens que seu bando andou fazendo com outras pessoas dali, firmou o propósito diante da família, de que, na próxima vez que ele passasse, o “ receberia na bala “. Para isso, mandou um recado para Lampião:

             “Não volte mais a Ipueiras, do contrário, será recebido a bala”.Ao tomar conhecimento do fato,  Lampião mandou a seguinte resposta:“ Quando passei por Ipueiras, respeitei você e sua gente, agora com seu recado atrevido a coisa vai mudar, prepare-se que haver choro".

             O momento fatídico estava para acontecer a qualquer instante. Até que no dia 03 de fevereiro de 1927, alguns membros da família do Coronel Pedro Xavier estavam reunidos na casa da fazenda para almoçar, esperando os demais que se encontravam na Vila de Ipueiras. Encontravam-se na casa sede da fazenda apenas: a matriarca Josefa Xavier (esposa do coronel); José Saraiva Xavier (Dezinho), um dos baluartes do combate; Aparício Xavier que na época era seminarista em Petrolina-PE, e estava de férias na Fazenda; Mário Saraiva Xavier, o mais novo dos filhos e ainda menino; Francisca Xavier (nora do Coronel); Pedro; e amigos da família como Napoleão Pereira e Naninha (esposa); e Tosinha ( de Jardim-Ce); Manoel Preto ( afilhado de d. Josefa) e Pedro Dama, este, por sinal, cego de um olho, homens de confiança da família.
   
              Estavam na Vila de Ipueiras na hora do cerco e foram subindo para a casa da fazenda, atirando: o Coronel Pedro Xavier, o patriarca da família, Gumercindo, Antonio, Aristides e Amélia (filhos do coronel), João Sampaio Xavier (genro e sobrinho), Luiz Teixeira (genro), Pedro Saraiva (genro). Dos filhos só faltou Francisco Xavier Sobrinho, filho mais velho do coronel Xavier, que estava em um fazenda distante, e não chegou a tempo.

             De repente, se ouviu um tiro.Dezeinho Xavier teve a impressão de ser tropa do governo, e indagou: “ Quem vem aí, é da polícia?“. A resposta foi um tiro disparado pelo cangaceiro ‘Tempero' que vinha á frente do grupo. Por um triz não alvejou Dezinho, que, sem perda de tempo, respondeu ao tiro, atingindo o aludido bandoleiro á altura de uma das orelhas, que caiu ali, sem vida.

 
              Lampião e seus cabras iniciaram o grande tiroteio, com mais rancor, diante da morte de um dos integrantes do grupo. Verdadeira batalha estava sendo travada, entre os Xavier e os Cabras de Lampião, cujos tiros quebraram jarras d´agua, derrubaram paiol e jirau de queijo. Dezinho Xavier, Manoel reto e Pedro Dama seguraram o fogo de frente evitando que Lampião chegasse ao terreiro da casa, enquanto esperavam pelo pessoal que estava na Vila de Ipueiras, mas que já vinham ás carreiras para  sustentar o fogo.

              Enquanto o combate prosseguia, com tiros de ambos os lados, as mulheres rezavam e os homens, não tinham tempo nem  de urinar. Napoleão Pereira, em alto e bom desafiava Lampião, dizendo: “ Cabra safado, um bandido como tu, eu te dou de peia no umbigo, você está falando com Napoleão Pereira do Jardim do  Ceará “. No meio da aflição, Manoel Preto acalmava Dona Zefinha; “ Madrinha Zefinha, enquanto a senhora ver este negro aqui, só tenha medo dos castigos de Deus “.

             Lampião trazia como refém, um camponês, amigo dos Xavier, Sr. Vicente Venâncio, além de Pedro Vieira Cavalcante da cidade de Jardim-Ce, tendo exigido da família desse último, 5 contos de réis para soltá-lo.

             A hora crucial se aproxima, o quadro torna-se dramático e nunca se sabia como iria terminar tudo aquilo, apesar da resistência dos Xavier se fazer forte, com poucos homens lutando e uma coragem inusitada.

             Com a chegada, na casa da Fazenda, dos  que se encontravam na Vila de Ipueiras, entre eles, destacou-se Gumercindo Xavier, homem de caráter admirável e coragem a toda prova, a reação aumentou.
 
 
 Imagens da Fazenda Ipueiras, Serrita-PE

              Só que os recursos se exauriam, a cada minuto. O Cel. Pedro Xavier temendo a munição se acabar e Lampião ir ganhando terreno em direção á casa da fazenda, e ai seria o fim da epopéia, mandou seus serviçais selar cavalos e avisar aos parentes e amigos, a exemplo do Coronel Chico Romão, de Serrita/PE.

              Segundo depoimento de um dos reféns de Lampião, Sr. Vicente Vitorino, no momento do tiroteio,  Havia se quebrado o Rosário de Lampião", e, como os cangaceiros eram por demais supersticiosos, o rei do cangaço manifestou-se receoso com o fato: era  mal sinal num combate, quebrar-se um rosário. Por sua vez a bala certeira dos Xavier havia matado o cangaceiro “Tempero”. Lampião ficou cabreiro com o episódio e disse:

             “ os homens estão fortes, o rosário quebrou e já perdemos nosso melhor fuzil, referindo-se á perda de “Tempero” ( que era um dos melhores atiradores do grupo),vamos dar o fora“.

A cruz mostra o local onde foi assassinado Pedro Vieira

              Naquele dia Lampião estava endiabrado. Como a esposa do refém Pedro Vieira Cavalcante (de Jardim-Ce) não pagou o resgate exigido pelo facínora, ali mesmo, na Faz. Ipueira, ele foi morto.  O tenebroso bandido, também, matou um popular, um rapaz jovem chamado Lino, que ia cavalgando num jumento, próximo ao local do combate.
 
              O refém Vicente Vitorino teve melhor sorte. Lampião se dirigiu ao mesmo e disse-lhe:“ Velho, se você nos desviar de um "Piquet" dos Xavier, eu lhe solto, se não você morre “.E, então, o camponês sabiamente, os conduziu por percursos estranho aos percorridos normalmente pelos Xavier, e, lá longe, na Macambira, Lampião soltou o velho que voltou á casa dos Xavier e narrou todo o acontecido.

 Severo, Dr. Napoleão e Ivanildo Silveira

             Logo após o cambate, chegaram á Fazenda Ipueiras, o Coronel  Chico Romão, de Serrita, com 50 homens, armas e munições, Aparício e Alfredo Romão com 30 homens; Luiz Pereira de Jardim-CE (genro do Cel. Pedro Xavier) com 30 homens. Em face do acontecido, as filhas do coronel Pedro Xavier, a idéia foi de Adalgisa ergueram uma Capela na fazenda, cujo patrono é São José.

Um abraço  a todos
IVANILDO ALVES SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC
Natal/RN

                NOTA CARIRI CANGAÇO: Esse episódio, tão bem narrado pelo confrade Ivanildo Silveira, foi exatamente um dia após a chacina de Guaribas, onde tombou morto Chico Chicote, também objeto de postagem neste blog.
 
Este texto foi extraído do Blog: "Cariri Cangaço"
cariricangaco.blogspot.com