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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O REI DO CANGAÇO

Por: José Mendes Pereira

 No dia 04 de junho do ano de 1898, no antigo sítio “Passagem das Pedras”, em Serra Vermelha, que nos dias de hoje é Serra Talhada, lá no Estado de Pernambuco, nascia o Virgulino Ferreira da Silva que posteriormente recebeu a alcunha de Lampião, e se tornou um dos maiores cangaceiros do nordeste.
 Era filho de José Ferreira da Silva, um pequeno fazendeiro da região. Um homem honesto, trabalhador e muito respeitado pela sua vizinhança. E de Maria Sulena da Purificação, uma senhora de gênio forte, e não aceitava que seus filhos fossem desrespeitados por ninguém. 
Diz os historiadores que a vizinhança chegou a dizer que: José Ferreira da Silva desarmava os filhos na porta da frente e dona Maria Sulena da Purificação armava os filhos na porta de trás. E ainda dizia abertamente: “-Eu não criei filhos para ficarem no caritó e nem para serem desmoralizados”. 
Lampião tinha sete irmãos, três mulheres e quatro homens, sendo eles: 
Antonio Ferreira da Silva - Nasceu em 1895, e foi assassinado em janeiro de 1927, pelo cangaceiro Luis Pedro, que era um grande amigo de Lampião. Mas foi um acidente. Lampião perdoou-o, exigindo apenas que ele assumisse a valentia do irmão.
Livino Ferreira da Silva – Nasceu em 1896 e faleceu em combate no ano de 1925. 
Virtuosa Ferreira. Não consegui a data de nascimento. 
João Ferreira da Silva – Nasceu em 1902 - Mora em Osasco. Nunca foi cangaceiro 
 Angélica Ferreira da Silva. - Não consegui a data de nascimento. 
Ezequiel Ferreira da Silva – Nasceu em 1908. Foi morto em combate no dia 23 de abril de 1931, num tiroteio na Fazenda Touro, povoado Baixa do Boi, no Estado da Bahia, ponto conhecido como Lagoa do Mel. 
Maria Ferreira da Silva (Mocinha) - Nasceu em 1910 - Mora em S. Paulo. 
Anália Ferreira da Silva – Nasceu no ano de 1912. 
Logo que completou três meses de nascido, Virgulino Ferreira da Silva recebeu a água benta na capela do povoado de São Francisco, e lá foi apadrinhado pelos avós maternos, isto é, os pais de Dona Maria Sulena da Purificação; Manuel Pedro Lopes e D. Maria Jocosa Vieira, com quem Virgulino passou quase toda vida de adolescente com os avós. 
A cerimônia foi oficiada pelo Padre Quincas, tendo este profetizado os destinos do menino Virgulino Ferreira da Silva, que na hora em que o banhava com a água benta disse: “-Virgulino – dizia o padre - vem de vírgula (querendo dizer que o vocábulo Virgulino gramaticalmente era derivado da palavra vírgula), quer dizer, pausa, parada". E arregalando os olhos, disse: - "Quem sabe, o sertão inteiro e talvez o mundo vão parar de admiração por ele". 
Diz que a infância de Virgulino foi normal como qualquer outra criança. Vivia harmoniosamente com as demais que com ele conviviam. Juntamente com outros meninos, freqüentou escolas, tendo sido alfabetizado pelos professores:  Domingos Soriano e Justino de Nenéu.
Sua vida estudantil foi curta, passando apenas três meses, e lá aprendeu a escrever, ficando apto a responder cartas, pois em épocas passadas, o estudo para pobres era apenas para alfabetizá-los.
José Ferreira da Silva como não era um grande proprietário, e com isso precisava trabalhar, sustentava a filharada através da criação de animais e da roça, ajudado pelos filhos mais velhos: Antonio Ferreira da Silva e Livino Ferreira da Silva, que com ele trabalhavam. 
Lampião dedicou-se a almocrevaria, trabalho em que ele transportava mercadorias sobre o lombo de uma tropa de burros de propriedade da família. E dizem os pesquisadores que este trabalho lhe foi muito importante em anos mais tarde para o cangaceiro, pois lhe deu bons conhecimentos nos caminhos das caatingas nordestinos. 
Em 1915, ocorreu uma das maiores secas da região nordestina, que muito se prolongou, assim lembrada por Raquel de Queiroz no seu livro “O Quinze”. 
Como todos os pais pobres levam uma vida sofrida para sustentar os seus filhos, José Ferreira da Silva não foi diferente. E como a seca havia visitado o sertão pernambucano, e vendo que se não procurasse outro meio para vencê-la, o pai de Lampião tomou uma atitude talvez até arriscada: Fazer visita a Juazeiro do Norte em busca de soluções religiosas, na intenção de ser abençoado pelo Padre Cícero, coisa que era de costume de muitas famílias nordestinas formarem grupos e caminharem até Juazeiro do Norte, na intenção de serem abençoados pelo Padre Cícero Romão Batista, que na época, todos o tinham como um santo milagroso. Sabendo que se toda família viajasse para juazeiro, a propriedade ficaria no abandono. Temendo isso, Virgulino não viajar com a família, ficando no sítio para cuidar dos afazeres rotineiros. 
Mas durante a estadia da família no Juazeiro, mesmo Virgulino com o olhar sobre as suas criações, houve desaparecimento de suas cabras. E assim que a família Ferreira chegou de volta do Juazeiro, percebeu que o rebanho de caprinos tinha diminuído. E ao descobrirem os desaparecimentos de caprinos, Virgulino começou a fazer investigações, tentando descobrir o verdadeiro ladrão dos seus animais. Esta luta durou até o começo do ano de 1916. 
Virgulino e o seu irmão Livino, ainda procurando descobrir quem era o larápio, um dia sem nenhuma maldade entraram na casa de um morador na fazenda Pedreiras do senhor José Saturnino Alves de Barros, conhecido na região por Zé Saturnino. E lá, eles viram couros dos seus animais, com o sinal nas orelhas, sendo este da família Ferreira. Com essa descoberta, não havia mais dúvidas, que aqueles couros pertenciam aos animais desaparecidos. E a partir daí começou uma rixa entre as duas famílias que durou por muitos anos. 
Sabendo que essa questão não seria tão fácil ser resolvida, Virgulino e seus irmãos conversaram e depois de muitos estudos, encontraram uma solução: Entrarem no bando de cangaceiros do Sinhô Pereira para continuarem lutando em favor do seu rebanho. 
Durante o tempo em que participou do grupo do Sinhô Pereira, Lampião muito aprendeu a respeito de liderança e do que era ser um cangaceiro. Mas o Sinhô Pereira tinha outros objetivos. E aos 26 anos de idade, sentindo-se doente, já com problemas reumáticos, e outros mais, desistiu do bando, entregando-o a Lampião. 
Após o recebimento do bando das mãos do Sinhô Pereira, logo começou a cair na fama, do mundo do cangaço, acabou organizando mais ainda o seu grupo, e tornou-se símbolo e lenda das histórias do cangaço. 
Ao assumir o bando, ele criou novas formas de luta. Fez a divisão do bando em menores grupos, onde cada um agia separadamente em locais distantes uns dos outros, para dificultar a perseguição policial. Cada bando de cangaceiros entrava nas cidades e vilarejos cantando, com chapéus bem ornados com ouro e prata. 
Os ataques que Lampião fazia, obrigou os governos do nordeste a criarem grupos de militares e voluntários para persegui-lo. Como Lampião estava se tornando um afamado cangaceiro, em agosto de 1930, o governo da Bahia ofereceu uma quantia para quem o capturasse vivo ou morto. Mas isso acabou dando mais fama a Lampião fazendo-o herói. 
Quando ele se agregou ao cangaço, levou consigo, três irmãos, razão pela confusão dos animais desaparecidos, isso é, rixa pessoal com o senhor Zé Saturnino. 
Lampião sem medo comandava destruições a sítios, fazendas e até cidades. Dinheiro, animais, jóias e objetos valiosos, eram assaltados pelo bando, na intenção de ficar com o suficiente para manter o grupo por alguns dias. 
Apesar de ser um facínora, Virgulino conquistou a simpatia e o apoio das comunidades, e ainda conseguiu aliados. 
Durante muitos anos de perseguições e confrontos pelas caatingas, finalmente Lampião e seu bando foram mortos no dia 28 de julho de 1938, na Grota de Angicos, no Estado de Sergipe, pelas volantes comandadas pelo tenente João Bezerra da Silva. 
Lampião tinha sete irmãos, três mulheres e quatro homens.  Sabia usar muito bem o fole e as teclas da sanfona, um pouco poético. Tinha facilidade de trabalhar com couros, e sabia muito bem ornar os chapéus, alpargatas, enfeitava as roupas e até inventou armas com espelhos, moedas de ouro, estrelas e medalhas. O uso de anéis, luvas e perneiras também. Armas, cantis e acessórios eram transpassados pelo pescoço. Daí o nome cangaço, que vem de canga, peça de madeira utilizada para prender o boi ao carro.